Para quem imaginava que o Maracanã se tornaria um “elefante branco” de prejuízos com seus altos custos, o Flamengo provou o contrário em 2019. Desde que assumiu provisoriamente a gestão do estádio em abril, em parceria com o Fluminense, o Rubro-Negro transformou o palco mais famoso do futebol em um negócio absolutamente rentável. Na goleada por 6 a 1 sobre o Avaí na última quinta-feira, o clube fechou o ano em casa com receita líquida aproximada de R$ 40 milhões em bilheteria.
Só a receita líquida de bilheteria supera o prêmio pelo título de campeão brasileiro (R$ 33 milhões) e é oito vezes maior em relação ao total que o clube recebeu pela conquista do Carioca (R$ 4,6 milhões).
A primeira partida do Maracanã sob a nova direção foi a final do Campeonato Carioca, quando o Flamengo venceu o Vasco por 2 a 0 e teve renda de R$ 2.152.256, mas lucrou apenas R$ 627 mil desse valor após cobrir as despesas operacionais. De lá para cá, a diretoria rubro-negra conseguiu aumentar a sua fatia para cerca de 50%, e o clube arrecadou praticamente metade dos R$ 79.749.967 dos 24 jogos do período, entre Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.
– Nós temos duas situações: o Flamengo time e o Flamengo gestor junto com o Fluminense, a gente tem que deixar bem separado. O Flamengo está satisfeito, conseguiu colocar um público bom no estádio, e o time ajudou. Com o time ganhando todos os jogos, invicto, é natural que o Flamengo rentabilize: vende camarote, cerveja, comida… O estádio gira e consegue pagar seus compromissos – analisou Severiano Braga, gerente de estádios do Rubro-Negro e diretor geral do Maracanã.
Flamengo e Fluminense administram o Maracanã em parceria, mas oficialmente o Rubro-Negro é o único permissionário do estádio, uma vez que o Tricolor não possuí todas as certidões negativas de débito necessárias. O caso de sucesso levou o governo a prorrogar, em outubro, a parceria por mais seis meses, até abril de 2020, e fez o clube reforçar a convicção de participar do processo de licitação.
– Vamos participar da licitação. É possível transformar o estádio em um equipamento rentável, sim. Temos um contrato provisório, e nossa intenção é participar neste edital pelos próximos 35 anos. Depois, com um contrato maior, vamos colocar a cabeça para funcionar, fazer investimentos e reduzir mais o custo do estádio – confirmou o dirigente, destacando o ano sem problemas de acesso:
– A gente já ganhou uma experiência maior de jogo, tanto que terminou o ano sem nenhuma confusão, quebra-quebra, nada. Várias pessoas falaram que iria ser temerária a semifinal Flamengo x Grêmio, que iria repetir a invasão da final da Sul-Americana, mas nós nos antecipamos a todos os problemas. Temos hoje uma operação de excelência que não fica a dever em nada.
Menos gastos e mais efetividade
Se hoje a média de lucro é de 50% da renda, no ano passado, por exemplo, quando o Maracanã ainda era administrado pela antiga concessionária, o Flamengo ficou com só 19% da bilheteria de R$ 37,5 milhões que o clube teve no estádio – valor que não inclui os dois clássicos que o Rubro-Negro fez no palco pelo Carioca, uma vez que a receita/prejuízo foi compartilhada(o).
Para reduzir custos, o aluguel do Maracanã foi o maior ganho. Hoje, qualquer clube que vai mandar um jogo no estádio, incluindo a dupla Fla-Flu, paga um valor fixo de R$ 90 mil. No antigo contrato, a concessionária ficava com 15% da renda bruta, com teto de R$ 700 mil e valor mínimo de R$ 200 mil. Além disso, a diretoria conseguiu cortar gastos, especialmente com empresas terceirizadas.
– Os fornecedores são os mesmos (da antiga concessionária), porém, sempre foram fornecedores de Flamengo e Fluminense. Nós chamamos eles para a mesa e falamos: “Olha, daqui para frente vamos fazer 70 jogos no Maracanã”. Você cria uma escala de trabalho, uma fidelidade que dá um giro na empresa, e eles conseguem passar um preço mais competitivo – explicou o gerente.
Nos últimos meses, o Maracanã pulou de 44% de efetividade da iluminação para 77%; ativou o sistema de energia solar; corrigiu defeitos dos telões; e reduziu a conta de luz em 20% e de água em 10%. Ex-gerente do Mineirão durante a Copa do Mundo e das Confederações, Braga liderou a missão de diminuir o custo operacional. Questionado se é possível aumentar mais a margem de lucro de 50%, respondeu:
– Essa é uma batalha mais difícil de vencer. Não quero perder qualidade do serviço que já tenho. Nós internamente já reduzimos o consumo de água e luz. Rodamos o estádio todo e vimos que tinha vazamentos, coisas para serem consertadas, algumas manutenções que precisavam ser feitas… A conta de luz sempre foi a grande vilã do Maracanã, e nós conseguimos reduzir em mais de 20%.
Ainda há o lucro com os bares do estádio, o que não entra no borderô das partidas. Apesar de não ser público, trata-se de mais uma fonte de receita considerada relevante pela diretoria. O último balanço financeiro divulgado pelo clube, que computou as receitas até setembro, apontou um aumento de 64% com rendas de jogos em comparação com o mesmo período do ano passado.
Parceria de sucesso não só dentro, como fora de campo.
Fonte: Flamengo.com.br