De olho no pódio: Diana Barcelos

O remo apareceu tarde na vida de Diana Barcelos. Depois de um acidente sofrido em 2014, ela perdeu uma parte da perna direita e decidiu se dedicar a algo diferente. O começo foi na vela adaptada e quase rendeu uma ida aos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Porém, Diana resolveu mudar novamente e hoje é bicampeã mundial, teve o nome incluído no ranking de melhores atletas do para-remo e ainda tem muitos sonhos pela frente.

Visando o Mundial e as Olimpíadas de Tóquio 2020, Diana conta com o apoio da família e a estrutura do Flamengo para buscar seu principal objetivo. Treinando forte, ela ultrapassa as barreiras impostas pela deficiência e a dificuldade em ser um para-atleta de alto rendimento para representar a Seleção Brasileira e seu time do coração.

Na série ‘De Olho no Pódio’, o site oficial do Flamengo conta as histórias de alguns dos principais atletas do clube e do Brasil, passando pela vida pessoal, carreira e, claro, o Mais Querido. Conheça um pouco mais daqueles que fazem os esportes olímpicos rubro-negros e brasileiros mais fortes.

Início no remo

O remo na verdade surgiu de uma necessidade de praticar um esporte. Eu já tinha feito vela adaptada para deficientes e tentei vaga nas Paralimpíadas Rio 2016, mas não consegui. Então fui procurando uma modalidade que eu me identificasse para não ficar muito sedentária. Me veio na cabeça a canoagem ou o remo. O Fred (Frédéric Mallrich), que hoje é meu técnico aqui, entrou em contato comigo dizendo que estava formando um projeto social de remo para pessoas com deficiência. Aí comecei a treinar com ele em junho de 2016.

Antes eu só fazia treinamentos duas vezes por semana, mas desde então fiquei direto e só aumentou. No mesmo ano consegui medalhas no Brasileiro, em seguida um bronze em um campeonato de remo indoor. Em 2017 veio um ouro no Sul-Americano e no Mundial nos Estados Unidos.

Chegada ao Flamengo

O projeto do Fred era em um outro clube, o Master do Guanabara, e ele recebeu um convite para trabalhar no Flamengo. Logo perguntou sobre a possibilidade de trazer para cá e aí todos vieram junto.

Momento mais marcante no clube

Ano passado, quando já treinava pelo Flamengo, consegui o bicampeonato Mundial na Bulgária com o meu parceiro Jairo (Klug), que treina em São Paulo. Foi especial para caramba, pois eu vinha de lesão e, se não estivesse aqui com toda estrutura que o clube dá, talvez não tivesse me recuperado bem para chegar na competição.

Rotina diária

Treino de segunda a sábado, normalmente na parte da manhã. À tarde costumo fazer uma atividade em casa, já que moro longe. Ainda fazemos a musculação de duas a três vezes no clube.

Maiores dificuldades de ser um atleta de alto rendimento

A rotina. Posso falar melhor do alto rendimento dentro do paralímpico. As competições são muito espaçadas, não temos a mesma carga que os olímpicos têm. Ainda falta esse espaço maior. Se manter no topo é um exercício diário de resiliência, pois temos que treinar e manter uma rotina sabendo que vamos competir apenas no fim do ano. Esse é o maior desafio, seguir sempre ativo com poucos torneios.

Principais competições e expectativas para Tóquio 2020

Esse é o principal ano e o que eu estava esperando desde que comecei a remar. Teremos o Mundial na Áustria, que será classificatório para as Paralimpíadas de Tóquio. Vou competir no barco Quatro Com, que são quatro pessoas mistas e o timoneiro. É uma categoria recente, mas vamos dar nosso melhor pela vaga.

Sempre penso nos Jogos. Quando entrei e assisti as aberturas da Rio 2016, falei para mim mesma que estaria lá na próxima edição. Não foi na vela, já que a modalidade saiu do programa, mas o Fred falou que existia a possibilidade e eu tenho potencial para estar no grupo do próximo ciclo. Fechamos esse combinado pensando em Tóquio no ano que vem.

O remo é um esporte duro para caramba. Às vezes fico meio séria e tensa, pois é a principal competição e a que estou treinando, esperando desde 2016. Estou muito na expectativa, treinando forte e sabendo que agora é o momento que não dá para vacilar.

Dificuldades de ser uma atleta com deficiência

Antes de sofrer o acidente em 2014, eu praticava esportes quando adolescente, mas parei, fui trabalhar e fazer outras coisas. Voltei depois. As pessoas sempre me diziam que eu era forte e grande, então podia praticar. Porém, pensava que já estava velha, pois tinha 25 anos quando perdi a perna. Vi que a modalidade paralímpica me abriu portas em todos os sentidos. Não é só praticar esportes e superar desafios, é quase uma dose diária de terapia. Me proporciona muitas alegrias, como poder representar o Brasil e ter uma satisfação enorme, colocando o país no lugar mais alto do pódio.

Tem desafios, pois é extremamente caro adaptar uma prótese para estar no remo. Até chegar um apoio demora e muitas vezes não chega. Às vezes você não tem dinheiro suficiente para manter.

Família

Tenho um sobrinho lindo, que é o Benjamin. Ele faz dois anos em agosto. Minha família toda mora em Maricá e eu fico aqui no Rio na casa de uma conhecida. Amo muito todos eles e estou lá sempre que possível, mas meu convívio acaba sendo mais com o pessoal aqui do remo por causa da distância. Todos me apoiam muito. Minha mãe sempre chora. Ganhei o Prêmio Paralímpico 2018 da modalidade com o Jairo e ela filmou, chorou muito e fiquei dizendo que não precisava (risos). Eles são minha base e minha paixão.

Remo na família

Conheci meu avô já bem tarde, pois meus avós se separaram quando minha mãe era muito nova. Minha avó estava falando comigo sobre como é engraçado que as coisas pulam uma geração e contou que ele era remador. Fazia a travessia entre Mauá e Paquetá em uma prova. Minha mãe não quis nada com o esporte e depois acabou em mim. Eu disse para a minha avó que isso era muito legal e engraçado como as coisas acontecem. Meu avô morreu há pouco tempo, ele tinha um porte bem atlético.

Ídolos

Sou apaixonada pelo Zico, adoro ele principalmente por ser pisciano como eu. Apesar de conhecer muito pouco do remo, tem uma remadora da Bielorrússia chamada Ekaterina Karsten que está há muitos anos no meio e disputa Jogos Olímpicos desde 1992. Atualmente está com 47 anos e continua remando em alto rendimento. É uma referência de mulher, pois se manter em um esporte tão duro por tanto tempo é difícil.

Sempre falo que o Fred, meu técnico, é um cara que admiro demais. Ele é um exemplo de resiliência, de perseverança. Ele é muito na dele e eu sou assim também. É um cara que me incentiva muito, me colocou no esporte e é muito paciente.

Hobbies

Sou louca por cinema. Se pudesse eu estudaria isso. Sou formada em história, mas gostaria de fazer uma faculdade só de cinema. Além disso, adoro ler, ir a museus, shows, adoro música.

Outras modalidades

Já fui mais ligada ao futebol e ao Flamengo, tinha até pôster dos tricampeonatos do Carioca. Hoje não acompanho tanto. Mas o remo trouxe a possibilidade de abrir meu campo e ver mais coisas. Uma modalidade que acho muito legal é a ginástica artística e rítmica. Passo dentro do clube e fico vendo o treino delas. Muitas vezes ligo a TV e fico assistindo o que tiver. Canoagem, agora vejo o Mundial de Esportes Aquáticos também.

Ficha técnica

Nome: Diana Barcelos
Idade: 31 anos
Altura: 1,78cm
Naturalidade: Rio de Janeiro
Principais conquistas: Bicampeonato Mundial (2017 nos Estados Unidos e 2018 na Bulgária). Foram conquistas muito emocionantes e vou levá-las para sempre. Foi indescritível.

Fonte: Flamengo.com.br

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