Flamengo não teve qualquer participação no “Caso Héverton”

Lá se vão mais de cinco anos e meio desde a queda da Portuguesa para a Série B no tapetão, por causa da utilização de Héverton. Até hoje, nenhum culpado foi apontado. E o Ministério Público arquivou o caso no fim de 2015, duas temporadas depois da utilização do meia nos 13 minutos finais do empate com o Grêmio, na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013.

Mas, após entrevistar 11 pessoas que faziam parte do dia a dia da Lusa na oportunidade, o Blog é capaz de cravar que o Flamengo não teve qualquer participação em uma eventual escalação proposital de Héverton. As suspeitas em relação ao Rubro-Negro nasceram a partir de denúncias de torcedores do Fluminense, via redes sociais.

É que como o lateral-esquerdo André Santos também jogou de forma irregular na última rodada do campeonato, pelo Flamengo, quem teria sido rebaixado não fosse por Héverton, seria o próprio Rubro-Negro. O Brasileirão terminou com a Lusa na 17ª colocação, com 44 pontos, um a menos do que o Flamengo e dois atrás do Fluminense – já contando a perda de quatro pontos de lusos e rubro-negros.

Mas a cronologia dos fatos permite garantir que o Flamengo não tem qualquer culpa no cartório. Vamos a eles:

1- o STJD julga às 11h da manhã de sexta-feira (6/12/2013) dois jogadores da Portuguesa: o atacante Gilberto e o meia Héverton. A Lusa tentava um efeito suspensivo para contar com Gilberto. Não conseguiu. Já Héverton fora julgado pela expulsão contra o Bahia, a três rodadas do fim do campeonato. O meia pegou mais um jogo de suspensão, além do já cumprido.

2- Osvaldo Sestário, advogado que representava a Portuguesa em todos os julgamentos no Rio de Janeiro, garante ter feito a comunicação por telefone na própria sexta-feira, às 17h12, a Valdir Rocha, responsável pelo jurídico do clube, a respeito do veto a ambos. Sestário apresentou em sua defesa cópia da conta telefônica mostrando o contato.

3- Na manhã de sábado (7/12/2013), antevéspera do jogo com o Grêmio, Valdir só comunica ao técnico Guto Ferreira sobre a punição de Gilberto – dias depois, diante da denúncia da escalação irregular de Héverton, Valdir afirmou que Sestário havia dito que Héverton pegou só um jogo (já cumprido). Sestário, quando ouvido pelas autoridades, jurou ter dito que o meia pegou mais um jogo.

4- Ainda na manhã de sábado, o técnico Guto Ferreira pensa em relacionar Luan, garoto convocado recentemente pela seleção brasileira sub-17, para o lugar de Souza, que havia sentido uma contusão na rodada anterior. O próprio Souza, porém, sugere que Héverton ganhe uma chance pelo menos no banco, já que seu contrato estava no fim e ele precisava de visibilidade.

5- No início da tarde do sábado, depois do treino, a Portuguesa parte para a concentração com Héverton na delegação. O elenco ficou em um hotel próximo ao Canindé, onde domingo (8/12/2013) ocorreu o fatídico jogo, que mudou a história da Lusa.

Se houve premeditação ou não, nem a Justiça pôde provar. Mas o “erro” em relação a Héverton já havia sido cometido entre a tarde de sexta e a tarde de sábado.

O Flamengo só entrou em campo para enfrentar o Cruzeiro às 19h de sábado (7/12/2013). Ou seja, se é que houve a percepção de alguém do Flamengo de que havia sido cometida uma falha – de usar o lateral-esquerdo André Santos suspenso -, isso certamente não foi percebido antes de a bola rolar.

Imaginando que, por volta das 21h, qualquer funcionário do Rubro-Negro tenha notado a infração, Héverton já estava relacionado e concentrado com a Portuguesa em um hotel na capital paulista há pelo menos oito horas.

Culpa de quem? Entre as pessoas ouvidas pelo Blog, há quem imagine que a escalação de Héverton foi fruto de uma falha de comunicação entre os advogados, causada também pelo caos organizacional do clube. Candinho, que atuou como gerente de futebol durante a maior parte daquela temporada, e cuidava dessa comunicação, fora demitido semanas antes.

Valdir Rocha, advogado da Lusa, ocupava várias horas de seu tempo cuidando de um imbróglio envolvendo o Banco Banif, que fora patrocinador da Lusa, e havia decretado falência. Até por isso, o banco cobrava cerca de R$ 20 milhões do então presidente Manuel da Lupa e outros R$ 20 milhões de seu vice, Luis Iaúca – a dupla havia tomado os empréstimos em seus próprios nomes, para o clube, que não tinha crédito.

Valdir é até hoje braço direito de Manuel da Lupa – eles trabalham juntos em uma das várias imobiliárias do ex-presidente, que não pagou qualquer centavo da pendência relacionada ao Banif. O caso, na Justiça, está avaliado em mais de R$ 50 milhões, com juros e correção monetária.

Boi na linha? Porém, existem pessoas na Portuguesa que desconfiam da possibilidade de alguém em nome do Fluminense ou da Unimed ter premeditado a escalação de Héverton, com a ajuda de funcionários rubro-verdes. “Por que o Souza teria pedido para o Héverton ser escalado?”, indaga um dos ouvidos pelo Blog, que até hoje atua na política rubro-verde. O cartola lembra que Souza esteve na Portuguesa depois de jogar no Fluminense, um ano antes.

Tempos depois, Manuel da Lupa foi expulso do quadro de conselheiros da Portuguesa, em decisão praticamente unânime do Conselho Deliberativo. Ele teve oito oportunidades para se defender, mas não compareceu a nenhuma das audiências realizadas no Canindé. Da Lupa, então, recorreu à Justiça, e conseguiu o direito de um novo julgamento, em que poderia se pronunciar.

Mas a decadência do clube e o enfraquecimento político impediram a realização de qualquer outra sessão para tratar do assunto no Canindé.

Hoje, muito por causa desse rebaixamento, a Portuguesa corre o risco de se tornar um clube de bairro. Ela não disputa pelo segundo ano consecutivo qualquer divisão do Campeonato Brasileiro, depois de ser rebaixada das Séries A, B, C e D. No estadual, seu torcedor tem de se contentar com a presença na Série A-2, que equivale à segunda divisão.

Fonte: Yahoo.com.br

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