Flamengo foi campeão de quase tudo em 2019. Que sorte dos times de São Paulo que ele não pôde disputar o Campeonato Paulista. Apesar do inquestionável sucesso nos campos, muitos torcedores adversários acharam que a mobilização da imprensa nos dias que antecederam a final da Copa Conmebol Libertadores — envolvendo telejornais, rádios, podcasts, jornais e canais digitais — foi excessiva. Os veículos de comunicação foram acusados de estarem torcendo descaradamente para o Flamengo.
Se você acha o argumento injusto, tente lembrar quanto destaque outras equipes brasileiras jogando a final da mesma Libertadores tiveram em anos anteriores. Não conseguiu? Nem eu. Nossos times participaram de vinte das últimas trinta finais, mas nunca houve tanto entusiasmo para promovê-los como vimos este ano.
Mas, apesar de nós, perdedores, termos ficado enciumados pela atenção dada ao Flamengo, é preciso entender que a imprensa não fez nada de errado. Muito ao contrário. Cumpriu exatamente o seu papel: superpromover o Flamengo.
Promover desproporcionalmente o produto principal em um portfólio não é exclusividade da mídia. Todas as empresas em todos os setores da economia fazem o mesmo. Isso é uma prática saudável e responsável de negócios.
Quando você vai a um supermercado, os produtos que encontra na entrada da loja não estão ali por acaso. Nos restaurantes, aqueles pratos recomendados com fotos também não são aleatórios. Nem mesmo nas suas buscas online você escapa dessa lei do comércio. Tudo o que aparece em destaque, tem uma razão para estar lá.
Para os veículos de mídia, o Flamengo é um destes produtos. Ele merece destaque na entrada da loja, foto e posição privilegiada em todas as buscas.
Quando o Flamengo está bem, as audiências das partidas são maiores, há mais consumo de jornalismos esportivo, os podcasts e programas de rádio são mais ouvidos, vende-se mais assinaturas de pay-per-view, mais jornais, revistas etc. Tudo isso impacta positivamente o faturamento publicitário dos veículos, sua principal fonte de receitas.
Por isso mesmo, nada mais certo do que promover mais quem gera melhores resultados.
O Flamengo não se tornou o principal produto do futebol brasileiro por acaso. Anos de transmissões de seus jogos, mais do que as de qualquer outro time, para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste ajudaram a recrutar legiões de torcedores em todo o Brasil.
Se hoje o Flamengo é o time de maior torcida no Brasil, o mérito não é somente do seu bom futebol (que me desculpem meus futuros ex-amigos flamenguistas). Ele deve muito à mídia esportiva.
Nos anos onde times de menor representatividade nacional como Santos, Fluminense e Cruzeiro (que me desculpem meus futuros ex- amigos santistas, tricolores e cruzeirenses) são campeões, como 2004, 2012 e 2014, respectivamente, a saúde da indústria do futebol não é a mesma. Isso não é um problema brasileiro, tampouco do futebol.
Uma final de Copa do Mundo da Fifa envolvendo países de tradição como Alemanha e Brasil é um sonho das emissoras. Quando eles jogam, torcedores em todos os cantos do mundo param para assistir. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito de uma final como a de 2018 entre França e Croácia (que me desculpem meus futuros ex-amigos franceses e croatas).
No futebol americano, o efeito é o mesmo. Um bom Super Bowl, o principal evento esportivo dos Estados Unidos, precisa de times de tradição para a emissora oficial recuperar seu investimento em direitos de transmissão. Todos festejam quando um time de grande torcida como o Dallas Cowboys ou um outro com grande rejeição como o New England Patriots chegam à final. Torcendo a favor ou contra eles são garantia de milhões de torcedores e de dólares para o evento.
Por isso, torcedor amigo, antes de criticar as empresas de mídia brasileiras, entenda que elas têm compromissos com seus acionistas e a obrigação de maximizar as suas receitas. O Flamengo é uma ferramenta importante para atingir esse objetivo. No supermercado do futebol, nenhum outro produto merece maior exposição.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
Por Ricardo Fort
Vice-presidente global de patrocínios e eventos da Coca-Cola
Fonte: Meio & Mensagem