Relatório Grêmio – Parte 1 / por Téo Benjamin (@teofb)

Entendendo um pouquinho os estilos, podemos partir para uma análise mais detalhada dos mecanismos táticos.

Independente de jogar o melhor futebol do Brasil ou não, o fato é que o Grêmio joga um futebol coerente. Tem um estilo de jogo construído ao longo de três anos por Renato – o trabalho mais longo do futebol brasileiro atual. Vamos dissecar esse time!

Números sozinhos não dizem muito sobre o futebol. Analisar uma partida, time ou jogador apenas com base em estatísticas costuma ser um erro. No entanto, quando bem usados, os dados podem revelar detalhes interessantes. A primeira parte do RELATÓRIO será apenas sobre números.

Usarei aqui os números do Campeonato Brasileiro. Sim, o Grêmio usou equipes mistas ou reservas em boa parte da competição, mas a verdade é que as mesmas conclusões aparecem analisando os números da Libertadores. Como eu disse, é um estilo coerente – independente de quem joga.

Num primeiro olhar, parece que Grêmio e Flamengo são muito parecidos. Os dois times estão empatados em posse de bola (56% em média por jogo), apenas abaixo do Santos (57%) O Grêmio é o segundo time que mais troca passes no Campeonato e o Flamengo é o terceiro.

O Grêmio é apenas o 15º time que mais tenta lançamentos e o Flamengo é o 19º. Tudo isso sugere que temos dois times que gostam da bola e priorizam passes curtos para envolver o adversário e chegar ao ataque.

Mas quando olhamos para o percentual de acerto dos lançamentos, o Flamengo é o 2º melhor e o Grêmio apenas o 10º. Além disso, o Fla é o 2º time que mais vira a bola de um lado para o outro e o Grêmio é o 8º.

Ou seja, o Fla é um time que não dá chutão. Atrai o adversário com passes curtos e usa a bola longa com consciência para encontrar espaços. O Grêmio normalmente escolhe um lado e força a jogada por ali, arriscando mesmo, em geral com seus pontas e a ultrapassagem dos laterais.

Não é à toa que o Grêmio é o time que dribla (que mais tenta e mais consegue) – mas também o 3o com mais perda de posse. Esse é um ponto de atenção importante, pois mesmo com uma alta média de posse de bola, o Fla é o terceiro time mais driblado no campeonato (em tentativas).

Mas o Fla é também o segundo que mais desarma e o Grêmio é o time mais desarmado. Copo meio cheio ou meio vazio? Isso se deve à pressão muito organizada do Flamengo, que corta as linhas de passe e força os adversários a tentarem o drible.

De fato, o estilo de marcação das duas equipes é um tanto diferente. Enquanto o Fla cerca e aperta para fazer o desarme, o Grêmio pressiona muito o jogador que vai receber a bola. Zagueiros e laterais têm licença para “caçar” quem recebe de costas em qualquer lugar do campo.

Com isso, o Grêmio tenta antecipações o tempo todo – e é o 4º no quesito interceptações (2º em percentual de acerto), enquanto o Fla é apenas o 14º (e 14º também em acerto). Veja a sequência de tweets abaixo.

O posicionamento da defesa também é bastante diferente. Jesus implementou uma linha alta de marcação e um sistema para “controlar melhor a profundidade”. O Fla deixava os adversários impedidos 0.7 por jogo antes de JJ e faz isso 2.2 vezes por jogo com ele.

Enquanto isso, o Grêmio só deixou os adversários em impedimento SEIS VEZES em 22 jogos! Média inferior a 0.3 por jogo! Menor do Campeonato! Isso é reflexo da linha de defesa extremamente recuada implementada por Renato Gaúcho (falarei disso em outra parte do relatório).

Por fim, é importante entender como os times terminam suas jogadas quando vão ao ataque. Quando encontra dificuldades, o Grêmio tende a arriscar mais o chute de longe. 47% das finalizações do tricolor são de fora da área, enquanto o Fla tem apenas 38% no quesito.

Já o Fla (que até enfrenta mais retrancas), opta por cruzar na área. É o time que mais cruza no campeonato, enquanto o Grêmio é apenas o 10º. 18% das finalizações do Flamengo se originaram em cruzamentos e apenas 9% do Grêmio foram assim.

Curiosamente, 27% dos gols do Grêmio saíram de cabeça, enquanto o Fla fez apenas 19% assim. Os gaúchos não cruzam muito, mas são muito perigosos. O Flamengo assusta mesmo quando consegue chegar tocando até o gol: marcou 18 vezes finalizando na região à frente da marca do pênalti.

Os números não encerram nada. Eles são apenas o início de uma discussão sobre semelhanças e diferenças desses dois timaços. Entendendo um pouquinho os estilos, podemos partir para uma análise mais detalhada dos mecanismos táticos. Vai ser um jogão!

*Os números são todos do @Footstats.

Conteúdo com apoio e desenvolvimento do portal Mundo Rubro-Negro.
Acompanhe em www.mundorubronegro.com

Essa análise foi desenvolvida por Téo Benjamin.
Sigam ele no Twitter @teofb

Artigo: Relatório Grêmio – Parte 1

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