No primeiro contato com Gustavo Henrique, é normal a altura (1,95m) do jogador chamar a atenção, mas o sorriso largo e o jeito simpático são proporcionais à estatura e mostram que, fora de campo, ele é bem diferente daquele zagueiro raçudo e brigador. Solícito, o camisa 2 do Flamengo recebeu a reportagem do jornal O Dia no Ninho do Urubu para uma entrevista exclusiva e explicou o porquê de ter optado por jogar no Rubro-Negro quando decidiu sair do Santos: “Eu estarei sempre disputando por títulos. Por isso escolhi esse clube.”
VEJA ABAIXO A ENTREVISTA COMPLETA COM GUSTAVO HENRIQUE:
O Flamengo é apenas o seu segundo clube na carreira. Quais foram as diferenças que você percebeu entre os dois clubes?
“O que eu mais senti diferença foi em relação à torcida. Onde você vai o pessoal é muito apaixonado, pede para tirar foto, apoia muito nos estádios. A estrutura do clube é uma referência no Brasil inteiro. A grandeza da estrutura me espantou um pouco. Eu nunca joguei na Europa, mas pode se dizer que é uma estrutura européia, tem tudo aqui. Essa foi a maior diferença que eu percebi entre os dois clubes.”
O noticiário do Santos, em 2019, mostrou que o ambiente no Santos era conturbado. No Flamengo, você encontrou uma atmosfera diferente?
“Sim… Pelo o que eu senti, a diretoria, os jogadores e a comissão técnica são bem aliados, transparentes. Acredito que no Santos, talvez por ser ano político esse ano, fez com que fosse um pouco mais conturbado e acabou tendo alguns problemas, que a gente nem ficava sabendo dentro de campo, mas fora de campo poderia ter sido melhor. Realmente tem uma diferença, uma harmonia diferente aqui.”
Você trabalhou em 2019 com o segundo melhor técnico do Brasileirão. Em 2020 está na mão do primeiro colocado. Qual é a diferença entre os dois?
“Eu tenho esse privilégio, né. Eu sempre gostei de ter essa posse de bola. Essa posse de bola sempre me atraiu muito, com os zagueiros também participando muito durante a partida, não só na hora de defender. O treinador de agora pede para sermos mais vertical, que não toque muito para o goleiro. Essa é a diferença, o Sampaoli gosta de ter o jogo mais jogado com o goleiro. E aqui não, é mais vertical, ele (Jesus) pede o jogo para frente, para o ataque.”
Mas o que tem de tão diferente entre os dois?
“É um método totalmente diferente do Sampaoli e aqui. A ideia do nosso professor é uma linha muito alta. Realmente foi diferente e é uma coisa que eu nunca tinha feito. Isso requer adaptação. Adaptação também para conhecer os novos companheiros. A gente teve muita mudança na zaga. Querendo ou não, o entrosamento tem que estar bem alinhado. Então, para acelerar isso, a gente tem que conversar bastante. A gente tenta fazer o que o nosso treinador pede. Às vezes não vamos conseguir, às vezes vamos errar, às vezes vai corrigir no dia seguinte, e assim vamos evoluir.”
O fato de uma hora atuar com Rodrigo Caio e em outra com Léo Pereira atrapalha?
“O entrosamento é sempre jogar com os mesmos companheiros, mas como eu falei que a aqui o nosso treinador trabalha com uma ideia só, os movimentos são os mesmos e isso não tem tanta diferença. As percepções são as mesmas, a leitura de jogo tem que ser a mesma. Claro que, como o Rodrigo (Caio) está aqui há mais tempo, eu peço ajuda a ele, perguntava ao Mister também.”
Você está totalmente adaptado às ideias de Jorge Jesus?
“Hoje, sim (totalmente adaptado ao estilo de jogo do Mister). Hoje entendo muito mais a ideia. Acredito que estou evoluindo todo jogo. Acredito que os demais companheiros que chegaram esse ano passaram pela mesma situação, não só na defesa, mas no ataque também. Às vezes, a ideia é diferente, e a gente tem que se encaixar na ideia do nosso treinador. Hoje me sinto muito mais confiante. Isso não quer dizer que não vamos errar. Os grandes zagueiros sempre erram, não vai ser eu que não vai errar.
Como você lida com as críticas?
“Eu tento manter sempre o foco naquilo que eu quero. Não posso escutar uma crítica que não vai me fazer bem. A crítica que importa é a do meu treinador. Estou tranquilo para aprender e evoluir.”
O atual elenco é o mais unido que você já trabalhou?
“Ambiente muito bom. Ambiente que ajuda demais. Um grupo sensacional e com vários jogadores que já ganharam muita coisa e ainda têm sede de títulos. Ainda há adaptação, é claro, mas com isso o grupo ainda vai se fortalecendo. Sem vaidade. Zero vaidade”.
Em dois meses de Flamengo, você já conquistou mais títulos que em sete anos de time profissional do Santos. Já parou para pensar nisso?
“Eu vim para o Flamengo por esse motivo mesmo. Eu vim para tentar conquistar títulos. Eu vim porque o planejamento foi de ser campeão. Eu precisava sair, respirar novos ares e optei pelo Flamengo pelo planejamento para conquistar títulos. No Flamengo estarei sempre disputando por títulos. Por isso escolhi esse clube.”
Qual título você mais almeja em 2020?
“O mais importante é sempre o próximo. O próximo é o Carioca. Todos têm um sonho de ganhar a Libertadores. Eu acompanhei o Flamengo no ano passado e é um sonho de todos ganhar a Libertadores, assim como ganhar a Premier League e a Champions League.”
Qual baixinho é mais difícil de o zagueiro marcar: Michael ou Soteldo, seu ex-companheiro no Santos?
“Os dois (risos). Eu marcava pouco o Soteldo, pois sempre estávamos no mesmo time, um jogador muito habilidoso. Michael também não é fácil. Quando você acha que ele vai cruzar, ele corta para o lado. Um cara que a bola está sempre próxima do pé dele. Os dois têm muita semelhança.”
A torcida tem dado sido importante desde o ano passado, lotando os estádios. Tem sido uma força a mais para vocês?
“Jogar no Maracanã é sempre especial. Eu jogava contra e sentia a pressão da torcida. Hoje estou vendo a favor. Com certeza é o nosso 12º e até mesmo o 13º jogador.”
Jogar contra o Flamengo no Maracanã dá medo?
“Não vou dizer medo, mas é uma concentração muito maior. Jogar contra o Flamengo tem que ser elevada. No Maracanã é pior ainda. Mas isso deixa o adversário mais animado, porque ganhar do Flamengo é bem difícil.”
Se você pudesse definir o Flamengo em uma palavra, qual seria?
“Paixão. A paixão que a torcida tem pelo clube é diferenciada demais. Estou percebendo isso mais agora. Isso só nos fortalece”.
Fonte: O Dia